COMO PRATICAR A ESPIRITUALIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO? A SEGUIR, ALGUMAS REFLEXÕES E DICAS DA INGLESA MAUREEN GOODMAN, QUE DEDICOU OS ÚLTIMOS 40 ANOS À PRÁTICA E DIFUSÃO DA MEDITAÇÃO AO REDOR DO MUNDO
Parar um minuto a cada hora de trabalho pode tornar seu dia mais produtivo – e sua vida mais feliz. Empresas que escolhem matérias-primas e práticas alinhadas às necessidades da natureza não precisam se preocupar com o lucro. Ele virá naturalmente. É o que diz a inglesa Maureen Goodman, diretora da Brahama Kumaris, centro internacional que difunde práticas como meditação e qualidade de vida, entre pessoas e organizações ao redor do mundo.
Maurren coordena o projeto Voz Interior no Reino Unido e na Índia. Foi também coordenadora mundial de projetos da Brahma Kumaris e atualmente dirige o fórum de líderes Espírito da Humanidade, na Islândia.
Em uma passagem pelo Brasil, ela falou à NEGÓCIOS sobre como a espiritualidade pode ser praticada nas empresas e sugere maneiras de superar os obstáculos cotidianos na busca por mais qualidade de vida.
O que significa, na prática, espiritualidade dos negócios? O que seria uma empresa espiritualizada?
Não necessariamente uma empresa onde todo mundo pratique meditação diariamente. Mas, sim, uma companhia em que o líder, o dono, tenha feito uma mudança interna em si mesmo, que se reflita no exterior, no ambiente de trabalho. Isso acontece quando a pessoa decide integrar o olhar para o social à maneira que conduz seu negócio, suas ações. Por exemplo, na escolha de recursos materiais que não agridam o meio ambiente, que sejam recicláveis. O líder que integra sua consciência pessoal ao bem maior, torna-se um exemplo para sua força de trabalho e para o mundo. As pessoas veem que ele não está mentindo, que está transformando o negócio em algo que colabora com o planeta. Muitas empresas têm seus valores pendurados na parede, mas ninguém lá dentro os pratica.
Apesar de as empresas estarem investindo mais em práticas e produtos sustentáveis atualmente, há ainda alguns conflitos na hora de fechar a conta. O fato de toda empresa visar o lucro não torna utópica a tentativa de colocar em primeiro lugar o impacto social de suas atividades?
De fato, o mais comum nas empresas é que o lucro venha em primeiro lugar, e os valores, depois. Há certo medo dos empresários em inverter essa lógica. Eles pensam: “Será que vou conseguir meu lucro?” Quando há esse medo significa que a tomada de decisão não está realmente fundamentada em valores e princípios. Porque o que as pessoas não se dão conta é de que, quando se coloca atenção nos valores e eles realmente são aplicados na prática, o lucro é uma consequência natural. Não é utópico, definitivamente. Só exige coragem. Mas, na verdade, esse modo de agir é muito seguro.
Então por que é tão difícil sentir essa segurança na prática?
Isso é outra questão. A simplicidade não tem muito valor na sociedade de hoje. Porque, geralmente, especialmente nos países capitalistas, as pessoas são condicionadas a serem consumistas, a estarem constantemente descontentes e, por isso, compram mais e mais produtos anunciados nos comerciais. Isso não faz uma sociedade feliz. É só olhar ao redor para constatar. Um exemplo dessa infelicidade é a disparidade entre ricos e pobres. As estatísticas criam uma sociedade menos feliz. É muito importante sair desse condicionamento mental e pensar de uma maneira diferente. Mas é também muito difícil fazer isso, porque achamos que é assim que o mundo funciona. Acredito que a educação tenha uma função importante em relação a essa mudança de mentalidade.
Quais práticas a senhora recomenda para alguém que pretende desenvolver algum tipo de espiritualidade no trabalho?
Eu disse que espiritualidade não necessariamente significa praticar meditação todos os dias. Mas a meditação é uma excelente prática. Oferece um grande auxílio na vida cotidiana. Para meditar, não é preciso estar numa floresta ou em cima de um monte. Nem ficar horas contemplando uma paisagem. Trata-se de uma prática para me lembrar das minhas referências, dos meus valores, para me reconectar com minha essência. Parece que é uma atividade passiva, mas seu impacto é uma melhora na hora de agir. As situações parecem mais claras e o praticante tende a se sentir mais seguro do que fazer no seu trabalho e vida pessoal. No site do Brahma Kumaris, temos o link Just-a-minut (só um minuto), que orienta meditações de um minuto, para serem feitas ao longo do dia. Há agências de publicidade no Brasil que encorajam as pessoas a pararem por um minuto, a cada hora de trabalho, seja para meditar, seja para pensar no que quiserem – menos trabalho. O resultado, segundo me contaram, foi um crescimento na criatividade e produtividade da companhia.
Um minuto não é muito pouco?
De manhã e à noite, é melhor praticar meditação por períodos mais longos. Mas, durante o dia, um minuto por hora, pode mudar tudo. Outra prática que as pessoas podem adotar para viver melhor é procurar intencionalmente as qualidades dos outros. É preciso um esforço para enxergar além dos comportamentos, que são manifestações externas. E o trabalho começa consigo mesmo. Quanto mais você consegue reconhecer os próprios pontos fortes, mais consegue ver o que os outros têm de bom e podem lhe ensinar também. Muitas vezes, todos estamos tomados por comportamentos padrões, no piloto automático. Então, é preciso realmente se esforçar para enxergar o que há de bom. Mas vale a pena. A vida fica mais feliz.